segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres que deixam legado

No Dia Internacional das Mulheres, gostaria de postar três pequenas histórias de mulheres de força e coragem. Mulheres que foram e são, até hoje, figuras de transição, pois interromperam a transmissão de modelos, percepções, padrões ou pressupostos negativos, substituindo-os por outros, mais produtivos, eficazes e benéficos, apesar de todas as dificuldades.

Alabama (EUA), meados do século XIX. Quando uma menina que ainda não completara dois anos foi atingida por uma violenta febre, ninguém acreditou que fosse sobreviver. Quando ela sobreviveu, mas tornou-se cega e surda em consequência da doença, niguém acreditou que a menina tivesse algum futuro. Ninguém exceto Anne Sullivan. Órfã, quase cega e criada num orfanato, Anne demonstrou inabalável determinação para superar as condições adversas que a cercavam e conseguiu formar-se professora em uma escola para cegos. A menina, que viria a ser sua primeira e única aluna, chamava-se Helen Keller. Com a ajuda de Anne, Helen não apenas aprendeu a se comunicar: ela escreveu vários livros, realizou inúmeras palestras e conferências e, até hoje, serve de inspiração e exemplo para milhões de portadores de deficiência visual e auditiva em todo o mundo. A respeito de suas inúmeras atividades, Helen dizia: "Sou apenas uma pessoa, mas ainda assim, sou uma pessoa. Não posso fazer tudo, mas ainda assim, posso fazer alguma coisa. Não me recusarei a fazer o que eu posso fazer."

Rio de Janeiro (Brasil), meados dos anos 90. O futuro não parecia reservar a Heloísa Helena de Assis, conhecida pelo apelido de Zica, muito mais do que uma vida de pobreza e privações. Ela nasceu em uma família humilde e numerosa, com nada menos do que 13 irmãos. Desde cedo começou a trabalhar como babá, faxineira e empregada doméstica - empregos que mal lhe garantiam o mínimo necessário para sobreviver. Mais tarde, Zica passou a trabalhar em um salão de beleza e percebeu que, naquela época, não existiam bons produtos para tratar de cabelos crespos como os dela - e de boa parte das mulheres brasileiras. O que havia era muito caro e estava fora do alcance das pessoas de baixa renda. Zica decidiu que ela mesma criaria esses produtos. O fato de nunca ter estudado química não a impediu de tentar. Valendo-se de sua criatividade e vontade de aprender, ela pesquisou e estudou durante anos até que conseguiu desenvolver seus produtos, que mais tarde foram industrializados. O sucesso foi tão grande que Zica acabou abrindo seu próprio salão de beleza. Hoje ela possui cinco salões, com mais de 400 funcionários que atendem cerca de 23 mil clientes por mês. Com sua determinação, Zica mostrou que é possível superar dificuldades aparentemente insuperáveis e virar o jogo a seu favor.

E por último, uma história pessoal. Um dia, quando eu tinha 7 anos e acabara de ser alfabetizado, resolvi, por brincadeira, escrever um livro junto com meu amigo Roberto. "A Vida" era o originalíssimo título que bolamos para nossa primeira experiência literária. Mas logo admitimos que, do alto de nossos 7 anos, nada sabíamos sobre o assunto a ser abordado. Decidimos então, consultar nossas mães, aquelas que, para nós, deveriam ter resposta para tudo. Procuramos primeiro Dona Hilda, mãe de Roberto, e ficamos espantados diante de sua resposta arrasadora. "A vida é uma desgraça", disparou ela, prontamente. "A vida é cozinhar, lavar, limpar...", prosseguiu Dona Hilda, entoando uma interminável ladainha de tragédias. Depois de preencher uma página de meu caderno com sua visão pessimista e limitada da vida, senti-me tão desmotivado que decidi dar o livro por encerrado - suas palavras eram tão amargas que conseguiram arrefecer até mesmo o entusiasmo natural da infância. Mas Roberto insistiu para que continuássemos e, assim, fomos procurar minha mãe. Encontramos Dona Otília esfregando roupas no tanque. Ela e Dona Hilda possuíam mais ou menos a mesma idade e o mesmo padrão socioeconômico, com a diferença que Dona Hilda teve apenas um filho, enquanto minha mãe teve sete. Ao ouvir nossa pergunta, Dona Otília interrompeu seus afazeres e abriu um amplo sorriso. Ainda me lembro do brilho em seus olhos quando disse: "A vida é uma maravilha, uma dádiva de Deus. Existem problemas, mas as alegrias são maiores". E se pôs a enumerar os prazeres e as alegrias da vida, fazendo-nos encher três páginas do caderno com sua visão positiva e encorajadora. Embora o livro de minha infância nunca tenha sido completado no papel, creio que, de certa forma, ele foi escrito em minha própria vida. Considero minha mãe uma figura de transição porque ela sempre teve uma visão progressista e ética mesmo em ambientes desfavoráveis, rompeu com a uma tradição familiar nociva e estagnante e conseguiu transmitir esses valores a seus filhos, netos e bisnetos. Ou seja, foi uma pessoa que realmente mudou gerações e deixou um legado.

Essas três histórias mostram que não são apenas os acontecimentos dramáticos que colocam à prova a firmeza com que seguimos os princípios. Somos testados a cada  dia, a cada hora, seja por uma deficiência física, dificuldade financeira ou até mesmo quando uma criança nos pergunta "O que é a vida?". Nossas respostas definem a pessoa que queremos ser. E essas mulheres responderam com um forte "Sim" à vida.

Parabéns a todas as mulheres!


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